sábado, agosto 20, 2005

Sensações.

Como eu gosto de me sentir frenético numa noite de Março, fumando um cigarro, querendo experimentar tudo de todas as maneiras, com toda a gente, querendo-me viciar, querendo correr, amar até não ter fôlego, beber até estar seco, arrastar-me até me sentir.

Como eu gosto de me sentir quente numa noite de Inverno em que me querem e não me podem ter, naquelas noites em que vou sem ser, perco sem saber, vejo sem olhar.

Como eu gosto daquelas tardes quentes de Agosto, em que olho a paisagem transmontana e me sinto quente, fundido com toda aquela natureza, cheirando o calor que se entranha e se funde comigo, como tudo o que me rodeia. E fumo descontraidamente, sentido-me feliz.

Como gosto de me sentir apaixonado, mesmo sabendo que esse sentimento passará, mesmo sabendo que esse amor é impossível. Como admiro essa inocência, essa ingenuidade que nos atravessa e nos faz sentir encabulados.

Como odeio Moby que tá a dar agora na vh1.

Como ainda me sinto preso às paisagens transmontanas.

Como gosto e não gosto de ser assim.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Coisas.

Encontrei finalmente um poemeco que fiz vai para um ano, no 12º, numa altura em que estávamos a dar Álvaro de Campos no 12º ano e, sinceramente, já tinha saudades dele. É o meu "Opiário".

Absintário

Imperiosa noite que sobre mim cais
Por força me quedas e rasgas
Me partes, me amas e agarras
Para que como tu não viva mais.

Não, não és tu que eu desejo
nem este o mundo que eu sinto.
Faço tréguas com copos de absinto
E anúncio a recusa ao teu beijo.

E bebo para não sentir
Bebo para não pensar
Não em ti, nem que hei de partir
para teu barco frio, em negro azul do mar.

Não pretendo ser Alberto.
Ricardo, da razão tão pouco...
Quero apenas deixar-me viver
Sem estas lágrimas e medo de louco.

Porque te recuso?

Tenho a esperança irracional
que este abismo não tenha fundo.
Que a àgua me reflicta
Algo mais que um moribundo.

Por isso, perdidamente eu amo
Agarrado ao fio da ilusão
Na dinâmica do mundo e do espírito
Não creio, nem sinto o poder da razão.

Porque não o mereço.

Mereço antes o canto frio e sujo
Dos pobres de alma e coração,
Onde não raia o sol da vida
Nem raias tu e tua compaixão.

E nada mais faço senão existir.

E sei, obstinadamente
Que entre ser e não ser não há grande diferença,
Mas apregoando a vida tão futilmente
Deixo o negro alastrar como uma doença.

E para isso bebo.
Porque não consigo ser o que não sou
Um nada destinado a não ser
E não me conformo em como acabou
Esta minha esperançada miséria de viver.

E já nem sei se a quero ou não.

Já não tenho paz
Já passou, já foi
Já nem sei o que foi
Sei que já era.
Nem a ilusão amo, mas não te amo a ti
Já não consigo, já não sei.
E nem beber me cura do medo
Pois pairando sobre mim o teu enredo
Sinto que é agora que desistirei.

E por fim serei rei.


terça-feira, agosto 02, 2005

Tédio.

Não sei porquê, não devo ter essa capacidade e tenho pena, estava agora a comentar com um amigo o facto de todas as noites me dar vontade de escrever, de me expressar e não o fazer pura e simplesmente porque tenho preguiça, porque digo " Amanhã escrevo qualquer coisita. ". Nada me irrita mais do que a minha própria inércia. Nada me tira mais do sério do que a minha inutilidade como escritor...
Tenho frequentemente pensamentos que acho que poderia partilhar com alguém, com as 0 pessoas que lêm este blog, por exemplo, e todos os dias, invariavelmente, ou me esqueço, ou tenho preguiça de as escrever.
Vocês, pessoas que não existem, são uns priveligiados por presenciarem um momento que contraria o natural fluir das coisas. Sim, eu estou a escrever.

É engraçada esta coisa do escrever porque achamos sempre que nos vai sair qualquer coisa da cabeça que vai fazer o texto continuar, eu estou a ter um daqueles momentos em que me estou a esforçar, mas não estou a conseguir, uma espécie de prisão de ventre mental que me acontece frequentemente quando quero contrariar a minha inaptidão para a escrita.
Não devo ter mesmo jeito para estas coisas.

Tive ontem a ler Pessoa, com a minha irmã. Peguei no livro de Português do 12º ano e comecei a ler poemas de Álvaro de Campos e Caeiro e ocorreu algo de curioso. Aquilo pareceu-me bonito, mais bonito do que o normal bonito que achamos por definição quando lemos Pessoa, simplesmente porque é Pessoa. Aquilo fez sentido, aquilo tocou-me. Senti-me feliz por saber que também consigo sentir a magia da poesia, também consigo ler com olhos de ver, ler de mente aberta que é algo que acho que até hoje nunca tinha conseguido fazer bem. E gostei.

*momento de paragem cerebral/*

Eu não tenho filosofia: Tenho sentidos
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar.
/Alberto Caeiro

E agora esperava-se que eu fosse fazer uma reflexão qualquer sobre isto, mas acho que não estou muito para aí virado. Eu sei o que amo e o que é amar, e não é um guardador de rebanhos que me vai convencer do contrário. Claro que o contexto em que ele escreveu e o contexto em que eu me situo é completamente diferente, mas tinha que desabafar qualquer coisa estúpida.

Pensamento Aleatório do Dia : As loiras escandalosamente pintadas irritam-me.