quarta-feira, abril 20, 2005

Quem diria...

Quem diria que eu um dia iria ouvir música portuguesa e cantá-la a plenos pulmões, pois é, há grupos de pessoas que, felizmente, são capazes de fazer isso com um jovem metaleiro mais headbanger do que outra coisa. Ornatos Violeta. Finalmente descobri-os, já posso com muito orgulho dizer que conheço mais que a "Ouvi Dizer", já posso finalmente dizer às pessoas "ouçam ornatos, é muito bom" e orgulhar-me de ter tido em Portugal tão boa banda em que, imagine-se, se canta (e bem!) em português. Eu sei que já vou atrasado, sei mesmo, mas não consigo deixar de dizer aqui, que eles significam muito para mim neste momento, tanto na qualidade de todos os temas, como na eloquência do Manel na exposição dos seus sentimentos (em particular no Monstro, a Chaga tornou-se para mim quase num hino).
Seria porém injusto nao referir a ponte que atravessei para chegar aos Ornatos, os Pluto. Aconselhados por um amigo, foram a minha revelação do ano passado e , para todos os efeitos , a melhor desde ha muito tempo. Com uma música mais ao meu estilo, abriram-me as portas às ideias que ficaram consolidadas depois de ouvir Ornatos, a inegável qualidade dos arranjos, os solos que surgem na altura certa, o desacerto que funciona como adoçante e o Manel...no mesmo plano de todos os outros, com as suas letras e voz a funcionar da melhor maneira neste novo contexto. Temas como "Prisão" ou "Algo Teu" vão ficar sempre gravadas no Best Of da minha memória.



Outra das agradáveis surpresas que tive foi Amos Lee. Descobri-o no Tonight Show com a música "Arms of a Woman" e fui de imediato sacar o album. Havia algo naquele estilo folk/soul e calmo que me atraiu, uma paz qualquer de espírito atravessou-me naquele momento. O selftitled confirma-nos isso mesmo, a paz de espírito atravessa todas as músicas, onde Amos e a sua guitarra acústica são as peças chave, e nalgumas conseguimos encontrar letras verdadeiramente interessantes associadas a belos refrões ( ex : soul suckers ). A voz deste senhor é digna de elogios rasgados e faz até de certa forma lembrar Tracy Chapman. É um óptimo album para se apreciar numa viagem ou para se ouvir sem compromisso.


Quem diria han?

Não vai haver um novo amor, tão capaz e tão maior, para mim será melhor assim.

segunda-feira, abril 18, 2005

Korn Gives Head To God.

Há uns dias tive uma notícia que tanto me deixou perplexo como desiludido. Um dos guitarristas dos KoRn havia deixado a banda por motivos que, à primeira vista parecem ridículos - ele encontrou Deus e tornou-se num cristão extremista (ver mais à frente). Brian "Head" Welch tocou com o seu grupo durante 13 anos e passou a sua juventude ao lado do outro guitarrista, Munky e de repente chega à conclusão que afinal a vida que estava a levar nao era satisfatória e que não lhe trazia felicidade. Tudo isto parece legítimo, mas o que é facto é que o timing da sua saída não abona muito a favor dessa legitimidade.
Os KoRn já cá andam à muito tempo, tempo suficiente para ele ter tido sexo, drogas e rock´n roll suficiente para ter chegado há muito tempo a essa conclusão. Ele já não é nenhum teenager inconsciente, já tem idade para ter juízo e para perceber o que realmente se passa na sua cabeça.

Diz ele que chegou a todas estas conclusões numa altura em que estava quase a morrer de depressão, em que se sentia perfeitamente infeliz com a sua vida e que enquanto os outros se divertiam, ele se sentia mal...compreende-se, mas...durante 13 anos? Será que não será um pouco hipócrita da parte dele?


De qualquer forma, também é criticável o facto de ele se ter tornado tão extremista, ele tatuou ditos cristãos no pescoço e um j.e.s.u.s nos dedos e, imagine-se, diz que não se masturba nem está com uma mulher desde que se divorciou, e que o que o impede de se masturbar, é a tal tatuagem escrita na mão...se isto nao é doentio, não sei o que será. O Brian passou de um extremo para outro no espaço de meses, e mesmo assim, considero o extremo cristão onde se encontra mais radical do que os KoRn, na sua maturidade de 13 anos de carreira...
O rapaz até diz que recebeu uma mensagem de Deus para o 50 cent, para ele se salvar e para se dedicar ao cristianismo porque estava a ser conduzido pelo Demónio...something like that.
(ver www.headtochrist.com)

Na perspectiva dos fãs de KoRn pelo mundo inteiro, que é a minha, até certo ponto, é realmente uma desilusão, uma dor enorme pensar que aquela figura já nao vai mais estar associada àquela banda, tendo ainda por cima, seguido o caminho que está a seguir agora, o caminho do religiosismo radical de quem, indubitavelmente, deve ter sofrido.


E é por aí que devemos pegar para percebermos que, pelo menos até certo ponto, ele pode ter tido motivos para fazer o que fez, talvez a vida de rock´n´roll star nao lhe tenha dado aquilo que ele realmente queria. Realmente, se formos a ver ele sempre foi o menos exuberante dos 5, o menos "far out", apesar da sua inabalável presença em palco, a sua raça a tocar...é por isso que também tenho que lhe prestar homenagem, ao artista que todos os fãns admiraram ao longo destes anos, e cuja obra vai perdurar pela qualidade e pelo carisma que sempre teve. Quem sabe ele fique um homem mais equilibrado com o passar dos tempos e não olhe para o passado com o mesmo pesar que olha agora, mas é para o passado que todos nós temos que agora olhar para não esquecer Head.

Goodspeed Brian.