quarta-feira, agosto 03, 2005

Coisas.

Encontrei finalmente um poemeco que fiz vai para um ano, no 12º, numa altura em que estávamos a dar Álvaro de Campos no 12º ano e, sinceramente, já tinha saudades dele. É o meu "Opiário".

Absintário

Imperiosa noite que sobre mim cais
Por força me quedas e rasgas
Me partes, me amas e agarras
Para que como tu não viva mais.

Não, não és tu que eu desejo
nem este o mundo que eu sinto.
Faço tréguas com copos de absinto
E anúncio a recusa ao teu beijo.

E bebo para não sentir
Bebo para não pensar
Não em ti, nem que hei de partir
para teu barco frio, em negro azul do mar.

Não pretendo ser Alberto.
Ricardo, da razão tão pouco...
Quero apenas deixar-me viver
Sem estas lágrimas e medo de louco.

Porque te recuso?

Tenho a esperança irracional
que este abismo não tenha fundo.
Que a àgua me reflicta
Algo mais que um moribundo.

Por isso, perdidamente eu amo
Agarrado ao fio da ilusão
Na dinâmica do mundo e do espírito
Não creio, nem sinto o poder da razão.

Porque não o mereço.

Mereço antes o canto frio e sujo
Dos pobres de alma e coração,
Onde não raia o sol da vida
Nem raias tu e tua compaixão.

E nada mais faço senão existir.

E sei, obstinadamente
Que entre ser e não ser não há grande diferença,
Mas apregoando a vida tão futilmente
Deixo o negro alastrar como uma doença.

E para isso bebo.
Porque não consigo ser o que não sou
Um nada destinado a não ser
E não me conformo em como acabou
Esta minha esperançada miséria de viver.

E já nem sei se a quero ou não.

Já não tenho paz
Já passou, já foi
Já nem sei o que foi
Sei que já era.
Nem a ilusão amo, mas não te amo a ti
Já não consigo, já não sei.
E nem beber me cura do medo
Pois pairando sobre mim o teu enredo
Sinto que é agora que desistirei.

E por fim serei rei.


2 Comments:

Blogger patiXa_ said...

Está bom o teu poema. Eu gostei muito.
É o tipo de poema que sei que nunca vou conseguir escrever... também nunca escrevi muitos poemas. Não gosto de rimar, aliás, irrita-me quando rimo lol

5:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não te chamaria Fernando Pessoa, porque não acho certo "dar-te" segrand e precioso nome. Mas, mesmo pelo pouco que conheço, digo-te aind assim,..se kiseres seras tao bom como ele, ainda melhor..mais ajuizao, digo eu!

11:54 da tarde  

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